04 agosto 2007

Manhã de praia

Na terceira manhã de praia, fazia um tempo meio indefinido no litoral pernambucano. Um sol que não se decidia entre brilhar ou esconder-se irremediavelmente por trás de uma série de nuvens cinza chumbo que se aglomeravam a partir de um ponto distante no mar. Eu e Davi, animadíssimos como só uma legítima mineira e seu bem criado rebento goiano diante de tudo o que aquilo representava: brincadeiras, risadas, mergulhos, caça às conchas, castelos, pular ondas... Deste modo não seria um insignificante dia nublado de junho que iria estragar nosso programa.

E tudo parecia caminhar conforme nossa alegre previsão, não fosse por um detalhe. É que o “inverno” de 26°C do nordeste, além das chuvas, trás também muitas águas-vivas que invadem a areia com o vai e vem das ondas. E não sei o porquê, mas nessas ocasiões, os alvos são invariavelmente as crianças.

Dito e feito, na primeira corrida na beira d’água as bichinhas pegaram o Davi em cheio.
Um grito de dor e o choro doído fizeram-me disparar atrás de algum socorro. Deixei-o em um banquinho na beira da praia, o peito do seu pé esquerdo vermelho e inchado. Eu não fazia idéia de qual medicamento aliviaria aquela queimadura, mas com certeza o pessoal do hotel saberia me ajudar. Logo em frente me deparei com um dos funcionários do hotel. O infame, além de não saber de remédio algum, disse que iria procurar ajuda e desapareceu. Eu corri para a recepção do hotel. A recepcionista mandou-me pra gerente. A gerente desculpou-se, dizendo que com freqüência aconteciam casos semelhantes, mas não havia nenhum tipo de remédio na caixa de medicamentos do hotel e também não sabia dar nenhuma orientação.
Voltando à praia, algumas crianças da região se aproximavam do Davi, e uma delas me disse: “_Dona, joga vinagre que a dor passa!”
Peguei Davi no colo, ainda aos prantos, e fui direto para a área onde estavam servindo o café.
“_Dona Antônia, por favor, pegue um pouco de vinagre na cozinha, para eu tratar uma queimadura de água-viva”-pedi à senhora que fica preparando as tapiocas para os hóspedes.

Quando joguei o vinagre na queimadura, imagino que foi como tirar a dor com as mãos. Um minuto e o Davi já corria pra piscina.Mesmo aparentemente bem, resolvemos levá-lo a um posto médico, na vila de Porto de Galinhas, que ficava a uns 5 km do hotel.

O médico explicou que, nestes casos, o único procedimento é lavar com ácido acético (que é o nome químico do vinagre). O veneno da água-viva, que é alcalino, neutraliza-se na presença do ácido. Voltei pro hotel bendizendo a sabedoria popular daqueles moleques. Não é à toa que em minhas viagens de férias um dos meus maiores prazeres é conversar com as pessoas da região, aprender um pouquinho sobre a cultura e como levam a vida. Essa parte da viagem é para mim das mais interessantes, apesar de não estar escrita em nenhum guia de viagem.

De volta ao hotel, fui até a praia agradecer àquele menino, mas, assim como as nuvens de chuva, ele desaparecera e só havia ali aquela imensa praia deslumbrante e deserta.

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Eu, lagarteando na beira da praia, percebi várias pessoas comendo uma espécie de lagosta. Mania que eu tenho é essa de querer experimentar tudo o que eu não conheço. Fizemos sinal pro vendedor.
“ _E aí, vai uma porção de lagostinhas?Aproveita que o preço tá bom....
“ _Quanto é, moço?
“ _ Olha, são 10 lagostinhas por R$40,00. No restaurante do hotel você paga 60, mas só vem 4. Eu faço R$40,00 pra vocês, mas pros argentinos ali, ó, eu vendo por R$50,00. Gringo paga mais caro...

4 comentários:

Unknown disse...

aproveite a viagem...ainda bem que vc conseguiu resolver o problema, afinal dor e praia não combinam.
beijos.

Fernanda disse...

Olá Ana!
Finalmente voltei, entre avaria da internet e 3 semans de férias a ausência foi longa demais! Fiquei com saudades....
Fiquei com o coração apertado, só de imaginar a dor do Davi e a tua aflição! Tens razão, por algum motivo se diz: sabedoria popular! Inacreditável como no hotel foram tão relapsos.
Aproveitem bem! Nós também iremos ainda alguns dias para a praia, sabes como é, praia é indispensável para as crianças;)!
Beijos!

Babs disse...

Que história boa menina! Claro que não a parte que o Davi sentiu a dor, essa doeu até em mim aqui... Imagino o quanto não doeu em você também né? Que desespero ver seu bebê sentindo dor...
Mas enfim fim tudo acabou bem, e criou-se uma ótima história!
"Gringo paga mais caro" foi óteeeemmaaa...
Hehehehe...
Bjo

Ana Paula Montandon disse...

Vivien, Fernanda e Babs,
é um alento pra mim ver que vocês são fiéis amigas e não me abandonam nem quando eu desapareço...Obrigada, de coração!