30 novembro 2007

TEMPO PARTE II: em PAZ com ELE


O TEMPO (ou a falta dele) é um assunto recorrente em minha vida. Eu estou sempre brigando com ele. “Lutando” seria a palavra mais correta, já que se trata de uma Guerra.
Muito da culpa por minha falta de tempo era delegada às intermináveis horas de trabalho que qualquer trabalhador desse nosso século sabe serem necessárias para se construir uma carreira honesta.

Aí veio a surpresa: saí da empresa em que eu trabalhava há quase oito anos e fiquei assim, teoricamente, com todo o tempo do mundo disponível. Logo vislumbrei a possibilidade de idílicas semanas de ócio absoluto.
E, contrariando todas as expectativas... continuei com os minutos contados, acordando às 06:30 todos os dias (isto não é problema pra mim) e seguindo em várias atividades até às 22:30 ou 23:00 h (isto sim é um problema, geralmente me é difícil segurar o sono até mais tarde). Tive mais tempo para o Davi, mas longe de serem aquelas horas infinitas que eu havia imaginado.

Quase um mês assim me deixou um belo presente: descobri que pra quem gosta de atividade, não importa muito trabalhar fora ou não, o tempo sempre será curto pra ler todos os livros que você quer ler, participar de todas as brincadeiras com seu filho, dar aquele “jeito” nos armários e nas gavetas, explorar novas possibilidades de trabalho, dedicar-se a seus vários hobbies, dar atenção especial às pessoas queridas, etc.
Então, veio o alívio. E a lição: não se culpe tanto! Faça o que dá pra fazer! Viva o que dá pra viver! E perdoe-se pelo que você deveria ou gostaria de ter feito, mas foi impedida pela falta de tempo.

18 novembro 2007

É pra comer ou pra passar no cabelo?





























Seu Luziano é uma figura bem conhecida na região que engloba os bairros de Lourdes, Filostro e Jóquei, em Anápolis. Possui uma profissão que nas grandes cidades já está extinta, mas sobrevive, ainda que tropegamente, no imenso interior do Brasil: ele é leiteiro. Acorda, todos os dias, às 05:00 h da manhã para que o leite chegue ainda cedo à sua clientela. A visão de sua passagem é como retroceder trinta anos no tempo: ele usa a tradicional charrete puxada por um cavalinho velho, o chapéu surrado, a buzina estridente que denuncia sua presença e o acompanha o característico chacoalhar das latas de alumínio que levam o leite. Exerce seu trabalho há quase 50 anos, de segunda a segunda, faça sol ou faça chuva. O único dia do ano em que se permite fugir da rotina diária é na sexta-feira santa.

Há uns três meses Seu Luziano teve sua profissão difamada na televisão. É que a associação das indústrias de leite longa vida patrocinou uma propaganda para desestimular as pessoas a consumirem o produto vendido pelos leiteiros. A propaganda era bem explícita, com as pessoas passando mal e depois, revoltadas, quase “linchando” o pobre leiteiro, que fugia, com os clientes furiosos no seu encalço.

A campanha só esqueceu-se de mencionar o quão prejudicial pode ser também o consumo dos leites longa vida.

Sem querer aqui defender a inocuidade e segurança de um ou outro tipo de leite, o que fica evidente é que o consumidor brasileiro tem estado quase “solitário” na incerta tarefa de escolher a qualidade dos produtos que vão à sua mesa. Faz-se urgente uma atenção maior do governo aos órgãos fiscalizadores de alimentos, que estão, na maioria dos estados, com déficit de gente. Tampouco acho que isto seria a solução de todos os problemas. O problema não existiria se não houvesse, por parte de alguns empresários, o apelo pelo lucro fácil e barato. Aí a questão transpõe a esfera pública e passa a ser de cunho moral.

Um dia é o leite, outro dia o queijo, aí vem a carne bovina, enfim, uma novela em que a cada capítulo um alimento inadequado conquista sua fama temporária.

Para este caso cabe aquela velha pergunta de quem desconhece o significado de uma palavra: “_É pra comer ou pra passar no cabelo?”. No caso do leite contaminado com água oxigenada, a resposta, trágica, poderia ser: “Teoricamente pra beber, mas é melhor usá-lo mesmo pra descolorir os cabelos!”.