25 fevereiro 2007

Conversa de Salão

Toda mulher freqüenta (ou já freqüentou algum dia) um salão de beleza de bairro, isto é, aquele salãozinho pequeno, quase cem por cento das vezes instalado contíguo à casa da cabeleireira. Esta, geralmente faz de tudo: depila, corta, escova, faz tintura e lhe serve aquele cafezinho... Nestes salões quase sempre a dona trabalha só, ou no máximo tem mais uma ajudante, geralmente uma manicure.
Estes salões são ótimos para quem, como eu, nunca se lembra de ligar com antecedência pra marcar horário, ou melhor dizendo, tem o costume de ligar querendo um horário “pra já!”.

Desde minha última mudança, há cerca de dois anos, freqüento o Salão da Edith, que é exatamente como eu descrevi. De quebra ela é simpática e tem um ótimo humor. Lá uma coisa foge à regra dos salões de bairro: é que ela está sempre inovando. Só lá você encontra uma máquina para lixar pés, ou um método que não utiliza água para amolecer as cutículas, ou um creme de última geração para os cabelos. Porém, esta característica inovadora da dona do salão infelizmente quase sempre é deixada num cantinho, já que a “massa” freqüentadora do salão é composta por senhoras mais velhas e comadres, que gostam de tudo do modo mais tradicional.

Certo dia, precisando de mais um atendimento de urgência, liguei para a Edith e ouvi não sua voz alegre, mas uma mensagem dizendo que o telefone estava temporariamente bloqueado. Assim, passou-se mais de um mês e sempre que eu ligava, ouvia a mesma mensagem. Já tinha me resignado a não ter mais notícias dela quando, passando pela rua do salão, vi a porta aberta e a luz acesa. Edith me recebeu com o costumeiro sorriso e um abraço.
“_Edith, onde é que você estava, já faz mais de um mês...”
“_Ah, minha filha, eu estava pra Europa, passeando. Sabe que meu embarque saiu até na coluna social do O Popular!”
(este é o principal jornal diário de todo o estado de Goiás)
Comecei a rir, lembrando-me que havia descoberto, por acaso, que seu filho é o cabeleireiro mais famoso e fashion do estado. Ele é responsável pelos cabelos e make ups das modelos, atrizes e socialites. Ano passado saiu na Veja - os melhores de Goiás – como o melhor cabeleireiro do estado.
“_Isto é que dá ter filho famoso!”
E aí fomos pelo resto da tarde pondo as fofocas em dia, enquanto ela dava um jeitinho no meu cabelo. Entre vários casos, Edith contou-me que seu filho havia comprado oito mil euros só em maquiagem. Fiquei imaginando se em toda minha vida já teria comprado mais que 500 reais com essas coisas.

E assim tudo voltou ao normal no salãozinho da Edith. Quem passa pela rua não é capaz de imaginar que aquele salão modesto trabalha com as últimas tendências européias em cortes, penteados, etc. Mas isto, é claro, só para as clientes mais ousadas.

20 fevereiro 2007

O mapa do tesouro: Campanha Child Friendly#links

O mapa do tesouro: Campanha Child Friendly#links

Campanha Child Friendly



Este comercial faz parte de uma campanha da organização Childfriendly, da Austrália. Seu objetivo é despertar nos adultos a grande responsabilidade que é (ou pelo menos deveria ser) EDUCAR CRIANÇAS.
Eu achei que este vídeo conseguiu, apenas com imagens, acertar no centro do alvo.
Tenho visto muitos exemplos de homens e mulheres que nunca entenderam o significado das palavras "ser pai" apesar de terem um, dois ou mais filhos. Eu sou da opinião que há dois tipos de pessoas, neste contexto: as que nasceram para serem pais e as que não tem a menor vocação para isso. Eu, por exemplo, sempre quis ser mãe. Me dedico ao trabalho durante 11 horas do meu dia, de segunda a sexta-feira. Posso chegar em casa cansada, mas nunca deixo de passar pelo menos duas horas realizando atividades com meu filho, como brincar, desenhar, ou mesmo levá-lo para a cozinha para que ele me ajude a fazer alguma comidinha. Dou banho, dou janta e deito com ele quase todos os dias para contar uma história e fazê-lo dormir. Por conta disto, deixo muitas outras coisas pra segundo plano. Não digo que isto é sempre um prazer. Há aqueles dias em que a gente chega cansada, ou louca pra assistir um programa na tv, ou doida pra terminar de ler aquele livro, ou pra ligar o pc. Mas eu assumi um compromisso com meu filho assim que decidi que iria tê-lo. E não vou abandonar este DEVER para satisfazer as vontadezinhas da minha personalidade. Devo dizer também que este DEVER não causa peso algum.
Ser mãe (e pai) é uma das chances que temos de crescer como SERES HUMANOS. Explico: é uma experiência que nos ensina a deixar de sentir prazer apenas nas coisas que alimentam nosso próprio ego e passar a ter prazer no ato de servir e cuidar de outro ser. A gente se acostuma àquela vidinha de trabalhar e satisfazer nossos desejos, como um vestido novo, um filme, uma comida, uma conquista e, de repente, temos que largar mão de tudo isto , deixar tudo para segundo plano. Tem uma vida que precisa ser cuidada. Tem uma vida que depende de você. E aí acontece esta experiência de doação, de generosidade, de crescimento. Se ela for sentida por você intensamente, vai ter o poder de mudar sua vida para sempre, porque passa a fazer parte de você. Querer o bem de seu filho mais que o seu próprio é subir um degrauzinho no sentido de evoluirmos como pessoas. Mas ainda é um sentimento egoísta. E o incrível é que tem gente que nem disto é capaz.

Não poderia terminar este post sem dizer que há muitas pessoas que não precisaram viver a experiência de ser pais para sentir a vontade e agir para o bem de outras pessoas. Estas, realmente, estão bons degraus à frente! E há, também, aquelas pessoas que após serem pais, passaram a enxergar todo um mundo precisando de ajuda e passaram a se moverem neste sentido.
É para todas estas pessoas, como a Denise, o Daniel Azevedo, a Eliene, e minha mãe "D. Lourdinha", que eu dedico este post.

17 fevereiro 2007

Brasil made in USA

Longe de querer criticar o nível cultural geral de um povo, mas às vezes fico chocada com umas histórias que demonstram o total desconhecimento do americano em relação ao Brasil.
Tanto meu pai (nos anos 60) quanto meu irmão (agora, já no séc. XXI) que moraram lá na terra do Tio Sam, têm suas histórias pra contar. Há aqueles americanos que afirmam que o Brasil está localizado na África, tem um outro que desenhou o Brasil menor que o Alaska. Isto sem contar os que acreditam que nosso país é uma grande floresta amazônica do Oiapoque ao Chuí, com algumas mulatas enfeitando a paisagem e se requebrando em fantasias de paetês.
O melhor caso relacionado a este assunto que eu já ouvi aconteceu com um amigo meu lá na Califórnia...
Fred mudou-se há uns 2 anos para Sacramento. Ele é um sujeito “pinta”, como se diz, além de muito comunicativo e interessante. Logo fez uma turma de amigos, e todos saíam sempre na night (apesar da noite acabar bem cedo por lá). Uma noite, em mais uma festa com a turma, conheceu uma americana muito bonita, que se encheu de sorrisos assim que ficou sabendo que o Fred era brasileiro. Dizia ela que também se considerava brasileira, porque tinha ascendência brasileira, e que amava tudo que dizia respeito ao Brasil. Na verdade, sua avó paterna havia nascido no Brasil e vivido aqui até os 3 anos de idade. Assim, a moça passou o resto da noite falando sobre o Brasil.
Naquela época Fred passava alguns meses lá e outros tantos aqui. Naquela noite ele estava justamente com passagem marcada para, em poucos dias, retornar ao Brasil.
Depois de uns três meses aqui, Fred voltou a Sacramento e à turma das baladas. Nicole ( a americana auto-entitulada Brasileira) o recebeu com um forte abraço de “conterrânea” e anunciou que tinha uma grande surpresa para mostrá-lo. E aí, “dá-lhe” mais um discurso sobre o Brasil, seu orgulho de ser brasileira, e sua vontade de ter algo que a identificasse com a nossa terrinha. Aí contou que teve a brilhante idéia de fazer uma tatuagem que homenageasse o Brasil, e ao mesmo tempo remetesse à sua “origem” brasileira. Então, procurou vários tatuadores famosos de Sac., e ficaram semanas discutindo e garimpando desenhos e símbolos que pudessem ser usados. Por fim, após muitas reuniões e cinco dolorosas ink sessions, havia concluído o trabalho e estava ali, radiante e ansiosa para mostrá-lo. Nicole virou-se e abaixou uns 8 cm seu jeans para que Fred pudesse apreciar a bela obra.
Imaginem sua cara de desapontamento quando ouviu, ao invés de um “uau, very good!” e palmas, uma sonora gargalhada que Fred não conseguiu segurar ao se deparar com a tatoo que tinha uma moldura de flores com a inscrição, em letras garrafais (que ocupava toda a parte superior do quadril):

PORTUGUESE GIRL

É, como diria o Zé Simão, nóis sofre mais nóis goza!

"Dedico este post ao Fred. Estamos com saudades!"

11 fevereiro 2007

O Beijo


Um turbilhão de emoções tomava conta da garota naquele instante. Sentia seu coração acelerado e uma excitação cada vez maior fazia com que se sentisse mergulhada num sonho, num transe...
Tudo isto porque estava, finalmente, tornando realidade aquele velho desejo. O dia chegara, aliás, um fim de tarde, com o sol já baixo e o frio do inverno intensificando-se com o chegar da noite.
Desde seus quatorze anos sabia que este dia chegaria. Agora estava ali, frente a frente com O BEIJO, e ela pensava em quem o artista havia se inspirado para compô-la, quem foram os modelos e se na realidade viveram uma paixão tão intensa quanto aquela que emanava dos dois belos amantes. Na verdade, ela nunca quisera conhecer a verdadeira história sobre aquela escultura. Nos livros e biografias que lera sobre Rodin sempre pulou, propositalmente, as páginas que falavam sobre esta obra, a fim de preservar sua magia, seu mistério.
Foi também por este motivo que abdicou da idéia de levar para casa uma réplica de 25 cm de altura, vendida na store do museu, o que também fazia parte inicialmente dos seus planos. Mas refletiu melhor e concluiu, sabiamente, que aquela sensação seria um tesouro guardado, como tantos outros em sua mente, e que ela não iria transformá-lo num objeto banal, a ser posto numa estante ou num centro de mesa. Ela decidiu preservá-lo da banalidade do dia-a-dia.
Anos depois a garota voltou a Paris uma e mais vezes, mas em nenhuma delas foi ao Museu Rodin. Apesar disto, a imagem de Paolo e Francesca continuam tão nítidas quanto a emoção daquela tarde de janeiro.


"Este post é dedicado à Lili e à profissão que escolheu"

02 fevereiro 2007

Sinceridade infantil

Minha mãe veio de Minas para servir de “Mãe” para meu filho, o Davi, na sua primeira semana de aula, já que a mãe verdadeira não pode se dar a um luxo desses por causa do trabalho.
Já no terceiro dia o moleque pegou uma faringite forte, que me fez passar toda a noite em claro pois a cada quinze minutos ele acordava chorando. O médico prescreveu um antibiótico, que deveria ser administrado o mais rapidamente possível.
Estava saindo para o trabalho quando o motoboy da farmácia estacionou a moto na porta de casa. Lembrei-me da criaturinha mansa que se transforma em uma fera indomável na hora de tomar remédio, e lembrei-me de todas as técnicas falíveis e infalíveis já experimentadas para fazê-lo aceitar um medicamento. Soltei um “Seja o que Deus quiser” e segui, apressada. Não deu outra: quando liguei do trabalho minha mãe disse que os dois estavam melados da cabeça aos pés, e que nas várias tentativas de fazê-lo beber o antibiótico, tinha quase se esgotado o conteúdo do frasco. E que ele havia se debatido, cuspido, feito vômito, e que não teve jeito mesmo.
Eu liguei para o Gustavo, que estava ainda perto de casa, e pedi a ele que passasse em casa para resolver a situação. Ele chegou em casa, chamou nosso filho e lhe explicou, calmamente, que era ele mesmo quem tinha ajudado a fazer aquele medicamento (eu e ele trabalhamos na indústria farmacêutica), e que o remédio servia para matar os bichinhos que estavam machucando a sua garganta e blá, blá, blá, blá...
Quando o pai ofereceu o remédio, ele abriu a boquinha prontamente e bebeu tudo em uma golada. A avó, que assistia a tudo de camarote, puxou o netinho para a sala e perguntou: “_Ô Davi, por quê é que comigo você cuspiu, deu birra e derramou o remédio e com seu pai você bebeu tudinho todo obediente?” E ele, sério e compenetrado: “_ Vovó, sabe o que é?” (Pausa) “_ É que de você eu gosto um pouco. Mas do meu pai, eu gosto muito, muito, muito!”
Fiquei pensando como seria o mundo se nós permanecêssemos com esta sinceridade dos primeiros anos.