Tenho andado por aí lendo e ouvindo, em vários lugares, o que é Luxo, o que é chique, o que é in. Por estas andanças, concluí que se há uma coisa absolutamente relativa conceitualmente, é exatamente o Luxo.
É comum que o tempo e o uso alterem o sentido das palavras. A bem da verdade, hoje em dia, muitas palavras já estão tão desgastadas e deturpadas que perderam seu significado original. Incluo o Luxo neste pacote. Além do mais, o conceito de Luxo vai se alterando conforme um bem se populariza ou seu acesso se torna mais fácil. O açúcar era um item de luxo quando foi descoberto. Mais ou menos o equivalente a um quilo deste pó, em sua época áurea, valia 11 moedas de ouro, ou dois bois gordos. Por causa disto o que é LUXO hoje pode ser LIXO amanhã, e o que é LUXO para alguns já é considerado LIXO pra outros.
Tem muita gente aí fazendo tudo pra aparecer nas colunas sociais ou nas “Caras” e variantes que existem por aí. Na opinião de Guilhermina Guinle, que costumava, quando criança, correr de triciclo pela suíte presidencial do Copacabana Palace (que foi construído pelo seu avô) CHIQUE mesmo é não aparecer em nenhuma dessas colunas. Fico imaginando essas pessoas do high society horrorizadas em serem fotografadas ao lado de uma celebridade instantânea, que gafe!!!!
Muita gente acha o máximo desfilar com uma bolsa Louis Vuitton falsificada. Dá pra entender? Claro que sim. Estamos na era das aparências. Ninguém mais precisa SER. Basta ESTAR. Basta PARECER.
Chique pra mim é ser autêntica. Assumir o que gosta, sem, obviamente, agredir outras pessoas.
Há pessoas que bebem vinho porque hoje em dia entender de vinho é muito chique (???). Aí vêm outras pessoas cheias de “estilo” e dizem que é o cúmulo do brega conversar e discutir sobre vinhos. Eu bebo vinho há mais de dez anos. Gosto, particularmente, dos Espanhóis, da região de Rioja. Gosto de outras variedades que vão da Argentina à França. Procuro entender e conhecer porque a partir do conhecimento posso apreciar sensorialmente ainda mais a bebida. Não discuto muito o assunto porque esse assunto só é bom para enófilos. E, realmente, para quem não gosta tanto assim de vinho, deve ser um verdadeiro porre ficar ouvindo sobre o aroma empereumático ou discutindo sobre o tamanho das perlages de um espumante. Por isso sou uma bebedora solitária. Nem sempre tenho o LUXO de ter uma companhia que aprecie esta bebida. Torço mesmo para que o vinho continue “na moda”, pois assim aumento minhas chances de convidar e ser convidada pra beber vinho.
E a moda segue, cheia das suas regras, exclusões e mesmo seus fanatismos. Andar na moda, hoje em dia, não é mais para poucos, apesar de nunca haver tanta gente mal vestida pelas ruas.
Num programa da Leda Nagle ela dizia que LUXO para a classe média das grandes cidades é ter TEMPO e COMIDA FRESCA (entendendo-se por comida fresca aquela fruta que você colhe diretamente na árvore, a galinha que você escolhe no viveiro antes de ir pra panela, o doce de leite feito com o leite que acabou de ser tirado da vaca, e a salada que você faz colhendo os legumes na horta. Em suma, comida caseira, com tempero que não enjoa, sem aditivos, agrotóxicos, hormônios, gordura trans e todas estas porcarias que a gente come todos os dias.
Todas as modas, modismos, luxos e mimos são sintomas de doença para o Professor Hermógenes, o mais antigo professor brasileiro de Yoga. Esse velhinho simpático, muito carismático e cheio de energia, diz que o mundo está sofrendo uma grande enfermidade nesta busca incessante da "felicidade" através do materialismo e identificação a estereótipos. E ele deixa seu recado para que alcancemos a verdadeira felicidade: DES-ILUDAM-SE!