20 abril 2007

Tempo



Hoje é sexta-feira, e assim como em todas elas, além da agradável perspectiva do final de semana, chega-me a conhecida sensação de que a semana se passou em um flash.
Há muito o Tempo tornou-se para mim, literalmente, a encarnação do deus Cronos, aquele que dá a vida a seus filhos para em seguinda devorá-los avidamente.

É fato que principalmente com as teorias de Einsten, o Tempo deixou de ser referido apenas como uma grandeza exata e passou também a ser compreendido em sua dimensão psicológica, ou relativa.Outro dia o filho de uma amiga perguntou a ela: “Mãe, é impressão minha ou o tempo aqui na fazenda passa muito mais devagar?” Minha amiga, que é apicultora, respondeu, paradoxalmente, que o tempo lá passava infinitamente mais rápido que na cidade, devido às suas tantas atividades.

Dizem que esta sensação de que a semana, o mês e até o ano acabaram e a gente não os “viu” passar é uma característica de épocas (ou eras) difíceis.
Confesso que sofro não só deste mal relacionado ao tempo, mas de outro ainda pior: o de ficar incomodada, sentir até um certo peso na consciência quando paro para assistir à TV ou ficar à toa mesmo, deitada numa rede sem fazer nada. Sinto mesmo que estou perdendo um bem precioso, e aí começo a relacionar em minha mente tudo que poderia estar fazendo para ocupar melhor este tempo.

Ontem, cheguei em casa e o Davi, que estava dormindo, acordou chorando. Reclamava de dor na garganta, dor no olho, dor na barriga. Chegou a vomitar. Eu e o Gustavo ficamos muito assustados inicialmente, mas após alguns exames e conversas com ele, intuí que aquilo tudo era mais carência do que doença propriamente dita. Então o peguei pela mão e propus que fôssemos à cozinha, onde ele me ajudaria a preparar uma sopa. Minha sopa (aliás, a receita é de minha mãe) é daquelas que inunda a casa inteira com um cheiro muito bom, e por isto mesmo eu uso quando quero animar os ânimos de alguém. Como previ, o resultado foi perfeito. Ao final do jantar, Davi estava rindo, correndo e brincando, e eu muito aliviada. Há algumas semanas estou com compromissos à noite, e não fico todas elas com ele. Creio que isto disparou um mecanismo de defesa em seu corpo. Hoje o Gustavo o levou ao médico pela manhã, só por via das dúvidas, e realmente ele não tinha nada.

E eu, aqui, desejando ter mais tempo para passar com Davi, com meu marido, mais tempo para mim, para o blog... e chego à conclusão de como é inútil esta correria de todo dia. E aí começam a brotar em mim mil indagações metafísicas: afinal, pra que tudo isto? O que irá representar isto para minha existência? Qual é a utilidade de todo este stress?

Então eu resolvi que iria por um ponto final neste dilema recorrente. E o solucionei, apenas colocando para cada coisa importante em minha vida o peso que cada uma delas tem para mim e a importância perene que têm em minha vida. E isto me fez descobrir que, sem abrir mão de meus compromissos profissionais, pessoais, maternais, vou conseguir fazer também muitas outras coisas às quais eu não me permitia, sem medo de sentir aquela sensação incômoda de estar gastando mal esse meu precioso bem.

Imagem: Cronos devorando um de seus filhos (Goya)

9 comentários:

Vivien Morgato : disse...

Fantástica essa pintura do Goya, adoro. Já usei na minha Casa.
Seu texto vai ao encontro do que tenho pensado, e acho que a gente tem que refletir sobre isso mesmo, sobre o uso( bom ou mal) do tempo. Sobre as escolhas.
beijos.

Blog da Mélica disse...

Adorei seu texto de hoje...
Só temos essa vida mesmo, temos que fazer dela o melhor, nao é mesmo?;)
Aproveite bem o fim de semana, ou melhor, a vida!
Beijos.

Fernanda disse...

Pois é, Ana, saudade é pior do que doença! Coitadinho do Davi!
Eu também tenho essa impressão e pressão constante do tempo, aliás é um assunto que eu debati muito recentemente com um primo e o meu marido. Se há um tempo que eu acho que é desperdiçado é o tempo do sono; que pena eu precisar de dormir 8 horas!
Eu acho que a chave para conciliar todos os nossos compromissos é a organização e aí devemos descernir o prioritário.Eu já descobri o que é importante para mim nesta vida, tu sabes,é a família; no entanto há uma série de actividades das quais eu não prescindo, para a minha saúde mental e meu bem-estar. Desejo que também que descubras e fiques em paz.
Beijos!
P.S. Muito boa essa metáfora de Cronos!

Fernanda disse...

Ana,
iria adorar encontrar-te e á tua família, cá em Portugal! Desta vez tens que vir para o Norte!
Fui hoje buscar á FNAC "Meditações" de Marco Aurélio; é uma edição brasileira. Estou entusiasmada com a leitura, mas quero ir devagar.
Beijos.
Bom fim semana!

Thelma disse...

Oi, menina
Temos que estar conscientes que a vida passa super rápido e que, em qualquer esquina, podemos mudar de plano. Com isso, necessitamos aprender a priorizar e focar
nossos reais interesses.
Mas nao é fácil para ninguém, nénao?
Bjs.

Ana Paula Montandon disse...

Vivien,
o tempo é um "artigo" de luxo pra mim, e pra tantas outras pessoas. Mas organizando e ajeitando aqui e ali, a gente vai aprendendo a lidar com ele!

Mel,
obrigada,
Bom fim de semana pra ti também!

Fê,
sabe que eu invejo minha mãe e algumas amigas que só necessitam de 5 horas para repor o sono. Infelizmente eu sou das que precisam de 8. Quanta coisa eu faria com essas 3 horas a menos, rsrsrs...
Ah, tenho planos de voltar aí, sim! Mas não imediatamente. Seria ótimo conhecer o norte de Portugal. Vou alimentar a idéia, como uma meta. Beijo pra você e pra sua família

Thelma,
entendo o que você diz, amiga. E deixar claro nossas prioridades é essencial. Um abraço grande

Babs disse...

Muito bom seu texto sobre o tempo! Muito pertinente!
Confesso que eu também me sinto culpada quando fico de bobeira... Mania de não saber relaxar direito, sei lá...
Beijo!

Ana Paula Montandon disse...

Beijo pra você também, amiga!

Anônimo disse...

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