16 março 2007

Você tem cheiro de quê?

_ De flor, na verdade, violeta...
_ Tem cheiro de carro novo, não, não, é de couro!
_ Se perceberem com cuidado irão notar especiarias, com forte presença de pimenta-do-reino.
_ Coco queimado...
_ Uma leve lembrança de extrato balsâmico, verniz...

O olfato é um sentido fascinante, que a meu ver tem tido seus encantos subjugados e até mesmo desprezados por boa parte das pessoas. Costumo divagar sobre isto, imaginando que nossos ancestrais deveriam possuir um olfato mais potente e ativo, obviamente utilizado como instrumento de preservação da espécie: identificar animais e pessoas em ambientes de pouca visibilidade, reconhecer lugares, identificar ervas medicinais e venenos quando os meios visuais já não o permitiam...

Hoje perdemos um pouco esta ferramenta, o mundo ficou muito visual... Lembro-me de uma viagem aos EUA, quando me marcou o fato das frutas possuírem um visual belíssimo, perfeito, mas com total ausência de aroma e cujo gosto era decepcionante.

Um cheiro possui a capacidade mágica de nos transportar em uma máquina do tempo até uma lembrança de infância, um lugar distante, um amor perdido...

Há algumas situações em que podemos explorar mais o olfato, uma delas é a gravidez. Certamente os enjôos que a gente sente têm relação direta com a potencialização desse sentido. Lembro-me que eu me assustava com o “poder” de conseguir adivinhar quem havia entrado no ônibus da empresa que nos levava ao trabalho, apenas sentindo o cheiro das pessoas.

Uma vez li sobre uma pesquisa em que vários representantes do sexo masculino, de diferentes biotipos, eram postos a suarem suas camisetas em uma longa sessão de bicicleta ergométrica. Então estas camisas “perfumadas” eram colocadas à avaliação de um grupo de mulheres que deveriam escolher, apenas pelo cheiro, qual seria o melhor parceiro. A pesquisa relatava que a grande parte havia escolhido a camisa do Macho Y (o mais alto e mais forte do grupo). Avaliei a pesquisa como cômica, além de questionar o reducionismo com que se concluía que o Macho Y levava vantagem sobre os demais (?!?!).

Mas, questionamentos à parte, temos sim, os feromônios, substâncias que silenciosamente influem e até decidem sobre nossas escolhas sexuais e de afetividade. Eles estão presentes no bebê recém-nascido e na mãe, que graças a eles despertam afinidade imediata um pelo outro. Eles estão no gesto da mulher arrumar os cabelos em frente ao pretendente, expondo as axilas e com isto liberando milhares de moléculas de feromônios em direção ao desavisado rapaz.

Podem alguns argumentar que os cheiros “humanos” não são tão atraentes como outrora. Mas eu venho veementemente discordar! Apesar de a gente tentar mascarar todos os dias os nossos cheiros mais primitivos usando perfumes, sabonetes, desodorantes, etc., vale lembrar que um perfume, para ter sucesso, não pode conter na formulação apenas cheirinhos de flores, frutinhas, madeiras. Perfumes assim formulados tornaram-se verdadeiros fracassos de público. Para ser realmente bom o perfume deve conter um componente de cheiro, digamos “fétido”, com o qual nos identificamos e ao qual milhares de anos evolutivos não foram capazes de apagar. Entram aí o papel dos almíscares, substâncias de odor acre e pungente que têm, além do primordial papel de fixadores, a função de acrescentar (obviamente em quantidades ínfimas) os componentes mal cheirosos à fórmula dos perfumes. Até muito pouco tempo eram utilizados para este fim glândulas de animais como cervos e de algumas espécies de gatos. Com o risco iminente de extinção, começou-se a desenvolver sinteticamente estas substâncias. Os almíscares fazem este elo entre as preferências dos nossos ancestrais e as consumidoras de Chanel, Giorgio Armani, Bulgari...

Hoje a indústria utiliza sabiamente os conceitos de aromaterapia para vender mais e mais produtos. De calcinhas a bonecas, de desinfetante a medicamentos, tudo tem que vir com cheiro, e se possível com a indicação terapêutica: calmante, energizante, afrodisíaco.

Se quisermos dar uma intensidade maior às nossas experiências, um bom caminho é começar a prestar atenção aos cheiros que nos cercam. E ir formando um arquivo olfativo no cérebro. Ah, e por falar nisso, ganhou um ponto quem identificou que o produto que produziu todos aqueles comentários olfativos do início do post foi um vinho! Uma bebida perfeita para quem, como eu, ama os aromas.

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Tudo isto porque eu queria saber se já saiu em DVD o filme: O Perfume A história de um assassino, baseado no livro de Patrick Suskind.
O livro me fascinou tanto que, mesmo depois de vinte anos ainda me lembro da história e do nome do personagem principal, Grenouille.
Não pude ver o filme, mais minha curiosidade é grande, já que a fama de história "infilmável" fez com que só recentemente fosse pras telonas. O livro foi tão bem escrito que dá pra gente quase sentir os cheiros da Paris do séc. XVIII.

16 comentários:

Babs disse...

Cheiro de recém nascido, cheiro de bolo, cheiro de sexo... Cheirar é bom demais!!!
Muito bom tema!
Sentir o cheiro e prestar atenção à ele permite viver com mais profundidade.
Bjos

Ana Paula Montandon disse...

Hum, cheiro de bolo é ótimo! Terra molhada de chuva também é bom...

Thelma disse...

Obrigada, Ana Paula!!

valter ferraz disse...

Ana Paula, vim agradecer o voto que vc depositou no texto A Firma. Aquilo alí é puro diletantismo. Mas gostei da brincadeira. Ganhar elogio é sempre bom, não? E ganhar um voto de alguém que não frequenta o blog todo dia, melhor ainda, penso eu.
Gostei do que lí aqui. Sempre converso sobre isso com minha esposa. Ela diz frequentemente que gosta do meu cheiro. À princípio eu achava engraçado iso de gostar do cheiro. Depois ví que realmente procede. Eu devido a uma infecção(sinusite) não sinto cheiro algum. Nem os bons e ainda meno os maus. Gosto de pensar que existem mais odores ruíns do que bons. Mas sinto falta do aroma do café pela manhã e fico privado do cheiro da pessoa que mais amo. Fazer o quê?
Eu não sei se saiu em dvd o filme Perfume.
Um abraço grande para você

Ana Paula Montandon disse...

Valter,
Obrigada pela visita. Ah, e agora que aprendi o caminho, estarei sempre lá no perplexo.
Abraço!

Blog da Mélica disse...

Adorei o seu texto de hoje..
Fiquei até curiosa em assistir ao filme tb!
Obrigada pela visita e pelo link.. ainda estou fazendo minha lista de blogs e certamente adicionarei o seu!
É ótimo seu blog!! Parabéns!
Beijos..

Fernanda Sampaio disse...

Olá Ana,
uma das minhas mais antigas recordações é do aroma a maçã em casa da minha bisavó, que não conheci.Em determinados momentos da minha vida esse cheiro volta e lembro automaticamente da casa da família.Quando namorava com o meu marido, ficava muitas vezes com um t-shirt ou camisola dele, para adormecer com o cheirinho do meu amor, rsss. Portanto, o cheiro é importantíssimo, sim! Ah, para provar a sua a teoria, li o "Perfume" quando estava grávida do meu primogénito e tive que parar a leitura muitas vezes, porque ficava verdadeiramente enjoada com os cheiros, kakaka...
Ainda não vi o filme, mas ultimamente tenho-me decepcionado bastante com livros adaptados ao cinema; se vc vir depois diga a sua opinião, ok?
Beijos e boa semana!
(Porque vc não apagou no acto o comm. do troll? Falar de competência, quando nem sequer sabe escrever a palavra, kakakak...)

Ana Paula Montandon disse...

Mel,
Obrigada pela visita. Assim como você, gosto muito de ler pensadores. Um beijo!

Fernanda,
vou te confessar uma coisa: eu não sabia para que servia esta ferramenta. Sou uma negação em usar estes programinhas, preciso de um consultor pra me ajudar nisso! Obrigada pela dica!

Anônimo disse...

Acho que as mulheres têm olfato mais apurado que o dos homens. Nós, normalmente, sentimos menos cheiros que vocês. Talvez resida aí a importância do perfume para as mulheres.

Anônimo disse...

o Y era o macho Alfa!!!

Anônimo disse...

ah, ainda não saiu em DVD =- chegou aos cinemas há uns 15 dias...

Anônimo disse...

O livro é incrivel! Adorei também. Espero ver o filme.

Ana Paula Montandon disse...

Lino,
sabe, isto pra mim é novidade, eu achava que os homens tinham o mesmo olfato que o nosso...

Serbão,
no meu imaginário o Macho Y é o nome vulgar para o Macho Alfa. É o que mais facilmente caracteriza seu fenótipo, ou seja, 1 m e 90 cm de altura, ombros largos e tronco enxuto. Seria, por assim dizer, a versão masculina da "mulher violão" rsrsrsrsrs....

Vanessa,
então você tá no fã clube juntinho comigo. Só espero que o filme não seja muito decepcionante!

Anônimo disse...

Ana, não vi o filme porque me identifiquei tanto, tanto, tanto com o livro que li a 18 anos atrás que não tive coragem de ir me decepcionar no cinema. Talvez mude de idéia...

O motivo da afinidade é que aos 18 anos tive que fazer uma cirurgia no maxilar que me deixou com a boca literalmente trancada por 50 dias e sem poder comer nada por mais de 60! O resultado foi que com a perda do paladar, meu olfato tomou proporções absurdas na época. Até hoje tenho um olfato aguçado por causa desta experiência. Daí, quando li o livro alguns anos depois, chorei me lembrando daquele momento estranho, agonizante mas bonito que vivi.

Beijo,

Ana Paula Montandon disse...

Léo,
puxa, que experiência difícil. Por outro lado, que bom que você pode, com ela, redescobrir este sentido tão interessante.
Beijo!

Anônimo disse...

Boa matéria, muito útil. Gosto muito de ervas medicinais , inclusive achei um site muito bom para tratamento com ervas medicinais o Link é:

www.chamedicinal.com.br