02 fevereiro 2007

Sinceridade infantil

Minha mãe veio de Minas para servir de “Mãe” para meu filho, o Davi, na sua primeira semana de aula, já que a mãe verdadeira não pode se dar a um luxo desses por causa do trabalho.
Já no terceiro dia o moleque pegou uma faringite forte, que me fez passar toda a noite em claro pois a cada quinze minutos ele acordava chorando. O médico prescreveu um antibiótico, que deveria ser administrado o mais rapidamente possível.
Estava saindo para o trabalho quando o motoboy da farmácia estacionou a moto na porta de casa. Lembrei-me da criaturinha mansa que se transforma em uma fera indomável na hora de tomar remédio, e lembrei-me de todas as técnicas falíveis e infalíveis já experimentadas para fazê-lo aceitar um medicamento. Soltei um “Seja o que Deus quiser” e segui, apressada. Não deu outra: quando liguei do trabalho minha mãe disse que os dois estavam melados da cabeça aos pés, e que nas várias tentativas de fazê-lo beber o antibiótico, tinha quase se esgotado o conteúdo do frasco. E que ele havia se debatido, cuspido, feito vômito, e que não teve jeito mesmo.
Eu liguei para o Gustavo, que estava ainda perto de casa, e pedi a ele que passasse em casa para resolver a situação. Ele chegou em casa, chamou nosso filho e lhe explicou, calmamente, que era ele mesmo quem tinha ajudado a fazer aquele medicamento (eu e ele trabalhamos na indústria farmacêutica), e que o remédio servia para matar os bichinhos que estavam machucando a sua garganta e blá, blá, blá, blá...
Quando o pai ofereceu o remédio, ele abriu a boquinha prontamente e bebeu tudo em uma golada. A avó, que assistia a tudo de camarote, puxou o netinho para a sala e perguntou: “_Ô Davi, por quê é que comigo você cuspiu, deu birra e derramou o remédio e com seu pai você bebeu tudinho todo obediente?” E ele, sério e compenetrado: “_ Vovó, sabe o que é?” (Pausa) “_ É que de você eu gosto um pouco. Mas do meu pai, eu gosto muito, muito, muito!”
Fiquei pensando como seria o mundo se nós permanecêssemos com esta sinceridade dos primeiros anos.

7 comentários:

GÊNERO CINEMATOGRÁFICO disse...

Oi Ana Paula,
saí do sumiço bloguético para conhecer a vc e seu blog. ótima historinha de filho. ótima relação com o pai.
quando voltar de vez (?) do sumiço, venho aqui de novo,
bjs
Cynthia

Anônimo disse...

Ana Paula, confesso a voce que essa sicneridade me assusta as vezes! Muuuita fofa a sua história!
Beijos,
Vanessa

Ana Paula Montandon disse...

Cy,
fiquei muito feliz com sua visita, você sabe que eu sou sua fã! É todos tem direito a um sumiço de vez em quando, só não pode ser eterno! bjim!!!

Van,
os filhos além de nos ensinar muitas coisas, ainda dão enredo pra várias histórias! Beijo em você e no Mateus!

Babs disse...

Mais uma vez, adorei o "causo"!
Crianças possuem uma sinceridade linda e desconcertante. Meus filhos já me fizeram passar por cada uma... Mas são momentos como esse descrito que fazem tudo valer a pena... Muito lindo!
Abraço

Anônimo disse...

Babs,
você com essa cara de Menina Alice, tem filhos! Um beijo graaande pra você!

Anônimo disse...

Hahahahahahaha!!! Crianças são ótimas para dar respostas inusitadas e sinceras, né? Minha mãe conta que teve uma vez em que perguntamos pra minha avó quando que ela iria pra casinha lá no cemitério, rsrsrs... a cara da sua mãe deve ter sido beeem parecida com a da minha avó :D

Ana Paula Montandon disse...

Hahahahaha! As vovós também sofrem, mas continuam amando os netinhos do mesmo jeito!